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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Quero-Quero!
     Jayme Caetano Braun
Vulto gaudério e teatino
Do velho pampa deserto,
No teu rancho a descoberto
Dos ventos desprotegido,
Ês o pássaro aguerrido
Das lendas da tradição
E o guasca do meu rincão,
Por lei de Nosso Senhor,
Para ser madrugador
Tem de guardar teu ferrão!

Foi  a lança ponteaguda
Desse ferrão colorado
Que te fez guarda avançado
Desta planura infinita,
Onde o gaúcho transita
Como guasca soberano,
É onde o teu vulto haragano
Foi o sentinela altivo
No cenário primitivo
Do velho drama pampeano!

O próprio Deus Rio-Grandense
Que te deu esse penacho
E a parada de índio macho
Que tão soberano ostentas,
Fez este pampa onde sentas
Das revoadas interminas,
Que fez o rancho e as chinas
A tapera e o umbu,
Não fez outro como tu,
Velho guardião das campinas!

Sentinela do Rio Grande,
Por divino privilégio,
Tu guardas o sortilégio
Das nossas lendas de antanho,
Por isso teu grito estranho
Que horas mortas se propaga
É o éco que não se apaga
Como eterna relembrança
Das velhas cargas de lança
E os entreveros de adaga!

Desfolhas, quando te acordas
Junto a taipa dos açudes,
As evocações mais rudes
De nosso heróico pasado,
És o grito abarbarado
Do charrua em pé de guerra
Que na fronteira e na serra
Consagrou com catecismo
Das tradições desta terra!

Se Deus te deu esse grito
Cheio de extranhos acordes
Nao foi para que recordes
O drama da raça extinta:
Ele te deu essa pinta
Para que graves com ela,
Tudo que a história revela
E que o tempo não enrasca
Enquanto existir um guasca
Contigo de sentinela!

Um dia hei de consagrar
Esse teu vulto bagual
No topo de um pedestal
Feito de cerne e granito,
Onde há de ficar escrito
O teu livro de façanhas
Para que nestas campanhas
Quando se apagar teu grito,
O guasca que andar proscrito
Pela inclemência da sorte,
Junto a ti, se conforte
Velho pássaro bendito!!!